quinta-feira, 13 de junho de 2013

Espelhos

   Todos dormiam. Era noite. O som do silêncio a ensurdecia enquanto ela calava. Mal podia sentir o perfume do jasmineiro e já começava a sonhar...sonhar com dias melhores, em que não precisasse esconder-se dos espelhos, ou do passado, e, passado tanto tempo, não pudera notar que perdera seus amigos, amores, sabores e cores.
   O orvalho cintilava ao beijo de um feixe de luz que saía pela fresta da porta da sua casa, enquanto o orvalho de seus olhos beijavam seu rosto com serenidade e o sereno lá de fora lhe trazia frescor.
   No céu, clara lua, princesa da noite, porque rainha mesmo é a escuridão. Cidade nebulosa e densa. Talvez nem soubesse o caminho da padaria, pois havia muito não saía de casa. Caso soubesse, poderia sentir o cheirinho de infância que tem sabor de pão. Mas ela tinha medo. Medo da luz do dia, por isso, só contemplava a noite, porque era à noite que o mundo dormia e ela não precisava ser bela ou esperta. Apenas ela mesma, mesmo sem ser.

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